Esqueça a imagem romantizada que alguns insistem em vender sobre as comunidades carentes. A realidade de uma favela dominada pelo crime em Novo Hamburgo, RS, é narrada em um testemunho brutal que expõe a miséria e a violência que poucos ousam enfrentar.
Uma jornalista e ativista política relembra anos de sobrevivência onde a dignidade era um luxo e a lei era imposta por traficantes. Sua vivência desmonta a narrativa de que há qualquer beleza na penúria e no abandono estatal.
Entre 2006 e 2007, a autora viveu num casebre sem banheiro interno, com frestas, sem saneamento básico, ganhando apenas R$ 490 mensais. A alimentação era precária: ovos com massa instantânea ou pão, café de baixa qualidade e água da torneira, com carne e feijão sendo raras glórias. A falta de recursos impunha banhos frios e a ausência de itens básicos, como absorventes.
O momento mais chocante foi presenciar a execução sumária de um jovem, devedor do tráfico, bem na frente de sua casa. Era o ‘tribunal do crime’ em ação, com a pena de morte aplicada sem qualquer pudor, marcando uma experiência traumática. Com apenas 18 anos, ela vivenciou o caos de uma comunidade sob o domínio implacável da criminalidade.
A mudança para um casebre com banheiro foi um alívio, apesar dos morcegos no forro. Mesmo em meio à adversidade, a autora e suas colegas resistiram às drogas e ao álcool, focadas em um futuro digno. A vida impôs outro desafio: o resgate de uma menina de 9 anos, moeda de troca ao tráfico devido à dívida de crack da mãe.
A dor de ver crianças treinadas para o crime e o ambiente hostil a impulsionaram para a comunicação política. O objetivo: fazer algo útil contra o sistema que permite a degradação humana e a ausência do Estado nas comunidades, abrindo espaço para o crime organizado.
Em 2007, uma enchente destruiu seus poucos bens, forçando-a a recomeçar no interior, buscando ajuda familiar. Este testemunho é um recado direto àqueles que, sem conhecimento de causa, tentam ‘glamourizar a pobreza’. Quem viveu ou vive em locais dominados pelo crime sabe o que é não ter paz, saneamento ou dignidade, e o peso que isso impõe ao espírito humano.
											