Uma nova pesquisa divulgada no periódico The Lancet revela um cenário alarmante para a saúde global: a Doença Renal Crônica (DRC) afeta atualmente 788 milhões de pessoas em todo o mundo. O levantamento, conduzido por especialistas do NYU Langone Health, da Universidade de Glasgow e do Instituto de Métricas e Avaliação da Saúde, aponta que os casos da doença praticamente dobraram desde 1990, quando 378 milhões eram impactados.
Atualmente, a DRC figura como a nona principal causa de mortalidade mundial, resultando em impressionantes 1,5 milhão de óbitos anualmente. Dados compilados de 133 países indicam que cerca de 14% da população adulta global apresenta algum grau de comprometimento da função renal, evidenciando a vasta extensão do problema.
Josef Coresh, diretor do Instituto de Envelhecimento Ideal da NYU Langone e coautor do estudo, alertou em comunicado: “Nosso trabalho mostra que a doença renal crônica é comum, mortal e está se agravando como um importante problema de saúde pública.”
**O Desafio do Diagnóstico Precoce e Seus Impactos**
A condição é caracterizada pela deterioração progressiva da capacidade dos rins de filtrar resíduos e o excesso de líquidos do sangue. Um dos maiores entraves no combate à DRC é a ausência de sintomas perceptíveis nos estágios iniciais, o que dificulta significativamente o diagnóstico precoce. Em fases avançadas, a maioria dos pacientes depende de tratamentos como diálise, terapia de substituição renal ou, em casos mais graves, transplante.
O número de mortes causadas pela DRC registrou um aumento superior a 6% em 2023 em comparação com 1993, mesmo após o ajuste para considerar as diferenças etárias entre as nações. Diante dessa escalada, a Organização Mundial da Saúde (OMS) incluiu formalmente a doença em suas metas de saúde global em maio de 2024, visando reduzir em um terço as mortes prematuras por doenças não transmissíveis até 2030.
Este estudo é parte integrante do Global Burden of Disease (GBD) 2023, considerado o maior esforço internacional de monitoramento da saúde. Para sua elaboração, os pesquisadores analisaram 2.230 artigos científicos e compilaram dados nacionais de 133 países, garantindo uma visão abrangente da situação.
**Fatores de Risco e Avanços Terapêuticos**
A função renal comprometida é um relevante fator de risco para doenças cardíacas, contribuindo para aproximadamente 12% das mortes cardiovasculares em todo o mundo. Em 2023, a DRC foi classificada como a 12ª principal causa de incapacidade global, reforçando sua gravidade multifacetada.
Entre os principais fatores de risco identificados pelos pesquisadores estão a hiperglicemia, a hipertensão arterial e a obesidade. O estudo sublinha que a maioria dos casos é diagnosticada nos estágios iniciais, período em que intervenções menos invasivas podem ser mais eficazes para controlar a progressão da condição.
Conforme Coresh, o tratamento rápido com medicamentos adequados e mudanças no estilo de vida pode evitar a necessidade de procedimentos como diálise e transplante renal. No entanto, Grams destacou que em regiões de baixa renda, como a África Subsaariana, o Sudeste Asiático e a América Latina, o acesso a tratamentos avançados permanece severamente limitado.
Nos últimos cinco anos, o panorama terapêutico para a DRC tem mostrado avanços com o desenvolvimento de novos medicamentos. Esses fármacos demonstram capacidade de retardar a progressão da doença e reduzir os riscos de complicações cardiovasculares, como infarto, AVC e insuficiência cardíaca. Apesar disso, os especialistas envolvidos no estudo indicam que ainda será necessário um tempo considerável para que os resultados positivos desses tratamentos se manifestem em escala global, dada as significativas disparidades de acesso à saúde entre as diversas regiões do planeta.
