A facção venezuelana Tren de Aragua está brigando por território com o PCC e o Comando Vermelho em Roraima. Segundo o estudo “Cartografias da Violência na Amazônia”, 13 dos 15 municípios já sentem a presença de grupos criminosos. Em Boa Vista, os venezuelanos comandam o tráfico em cinco bairros e também nos acampamentos da operação Acolhida, que ajuda refugiados venezuelanos desde 2018.
Entre janeiro e outubro de 2025, a Polícia Civil anotou 39 assassinatos em Roraima. Mais da metade das vítimas, 21, eram venezuelanas; 18 eram brasileiras. Nesse mesmo intervalo, houve 66 tentativas de homicídio, 34 contra brasileiros e 32 contra venezuelanos.
Na última semana, a polícia prendeu um líder do Tren de Aragua em Manaú, na terceira fase da operação Afluência, que investiga mortes ligadas ao grupo na zona oeste de Boa Vista. Até agora, seis venezuelanos foram capturados, além de drogas e armas apreendidas.
A expansão do Tren de Aragua no Brasil tem a ver com a crise humanitária que assola a Venezuela. Em 2022, Roraima registrou o maior aumento populacional do país, mesmo sendo o estado menos habitado, com 637 mil pessoas, de acordo com o IBGE.
A disputa por território trouxe mais mortes. Em Roraima, os homicídios subiram de 90 em 2020 para 127 em 2021, enquanto o Tren de Aragua firmava pontos de venda de cocaína vinda da Venezuela para Boa Vista. De março a agosto de 2021, a polícia ligou doze assassinatos na capital ao grupo, quatro deles com vítimas esquartejadas. Boa Vista ficou em 2021 como a quinta capital mais violenta do Brasil, com 35 mortes por 100 mil habitantes.
Em janeiro de 2025, a Polícia Civil encontrou um cemitério secreto entre Pricumã e Cinturão Verde, na zona oeste de Boa Vista. A polícia vinculou o local ao Tren de Aragua e descobriu nove cadáveres, entre eles um homem esquartejado, ossos espalhados e duas mulheres enterradas na mesma cova.
O PCC está presente nos 13 municípios onde o crime organizado atua em Roraima, dominando cinco desses lugares. O Comando Vermelho tem presença em oito municípios e controla Amajari, Cantá, Caroebe, Normandia e Uiramutã.
Os grupos criminosos levaram suas atividades para a mineração na Guiana. Tanto o PCC quanto os venezuelanos trabalham nos garimpos guianenses, mostrando que conseguem operar fora das fronteiras brasileiras.
Pacaraima, que fica na fronteira com a Venezuela, funciona como passagem para desviar combustível e máquinas que seguem por caminhos ilegais até as minas venezuelanas.
Desde que Donald Trump iniciou seu segundo mandato, o Tren de Aragua passou a ser observado pelos EUA. As autoridades americanas focaram no grupo por causa de barcos que traziam drogas da Venezuela.
Membros do Tren de Aragua começaram a chegar ao Brasil em 2016, aumentando sua influência conforme o número de migrantes crescia. De 2015 a 2019, o país recebeu 178 mil pedidos de refúgio ou residência temporária de venezuelanos.
Héctor Rustherford Guerrero Flores, apelidado de “Niño Guerrero”, é considerado o chefe do Tren de Aragua. Ele cumpriu prisão de 2010 a 2012 e de 2015 a 2023. O Tribunal Supremo da Venezuela o condenou a 17 anos por homicídio, tráfico de drogas, roubos, porte ilegal de arma e falsidade ideológica.
A facção nasceu em 2005, quando um sindicato de ferroviários que construía uma linha entre Aragua e Carabobo se transformou em grupo criminoso. Hoje, o Tren de Aragua é vista como a maior organização criminosa da Venezuela.
Fora do Brasil, o Tren de Aragua já está presente na Colômbia, Bolívia, Equador, Peru e nos Estados Unidos, usando Roraima como base estratégica para suas operações ilegais na América do Sul.
