Para o Estadão, enquanto Alexandre de Moraes está sob fogo cerrado, Dias Toffoli toma decisões que de fato colocam em risco a liquidação do Banco Master. No Banco Central, a preocupação está em Toffoli, não em Moraes.
É Toffoli quem pode anular a liquidação do banco privado e punir os técnicos que encontraram R$ 12,2 bilhões em créditos podres que foram revendidos ao Banco de Brasília (BRB). Essa possibilidade é concreta, crescente e atual.
A acareação entre o banqueiro Daniel Vorcaro e o diretor de fiscalização Ailton de Aquino será sigilosa. O cenário coloca Toffoli — supostamente a favor do Master — na posição de juiz, ao lado de Vorcaro, contra um técnico com décadas de serviço ao Banco Central. A tentativa de intimidação é evidente; o objetivo é obter uma declaração de Aquino que depois possa ser vazada para tumultuar, frear ou até mesmo anular o caso.
O ministro tomou a decisão de ofício, sem ser provocado, e negou o pedido da PGR para anular a acareação. Ainda é obscura a razão de a liquidação ter chegado ao STF, além de um documento encontrado pela PF que estabelecia as condições para a compra de um imóvel de Vorcaro pelo deputado João Carlos Bacelar (PL‑BA), como revelou o Estadão.
Toffoli está usando o cargo para reverter a decisão. Os atos de Moraes, por sua vez, não levaram o Banco Central a recuar ou mudar a linha de investigação.
Se a esposa de Moraes, sempre importante frisar, tinha um contrato milionário com o Master, o ministro deve explicações, pois, ainda que tenha feito apenas sondagens sobre o banco, isso poderia configurar crime de advocacia administrativa, quando um servidor público se utiliza do cargo para defender um interesse privado. Não houve atos formais de Moraes; ele não usou a caneta para favorecer o banqueiro Daniel Vorcaro.
A informação de que Moraes teria pressionado o Banco Central já circulava, mas os órgãos envolvidos, ainda que em off (em caráter reservado), como é prática comum entre quem cobre o poder em Brasília, negaram categoricamente tal pressão. Caso contrário, teriam levado o caso ao Presidente da República e à Procuradoria‑Geral da República (PGR).
De um jeito ou de outro, o contrato da esposa de Moraes, como revelou O Globo, só confirma a urgência e a necessidade de o STF adotar um código de ética que crie um constrangimento a mais para a postura de vários ministros da Corte e do Poder Judiciário.
Ao fim e ao cabo, o episódio expõe uma fragilidade no sistema de freios e contrapesos. A possibilidade de uma decisão judicial reverter, de ofício, o trabalho de fiscalização do Banco Central pode minar a credibilidade da autoridade monetária, com impactos imprevisíveis no longo prazo sobre a solidez do sistema financeiro.
