O Império Romano organizava combates em que prisioneiros, escravizados pelo Estado, lutavam entre si ou contra animais, com a promessa de glória, mas jamais liberdade. Homens e bestas eram mantidos sob o controle do regime.
Essas batalhas serviam apenas para distrair o povo dos problemas sociais, canalizando a revolta e a sensação de opressão, permitindo que a população escolhesse quem seria massacrado diante de seus olhos.
A decisão de perdoar ou condenar o gladiador derrotado era feita pelo público, que usava o gesto do polegar: cima para perdoar, baixo para matar.
Democrático, desumano, cruel e eficiente, tal era o instrumento de controle social.
Naquela época, o ambiente era denso com gritos, ofensas, sangue e morte, normalizados por homens, mulheres e crianças. Como reclamar ao governo quando o próprio povo decidia quem morrer? Evidentemente, a população não poderia despertar, vibrar positivamente ou transmitir amor e perdão capazes de atrair coisas boas.
Com a ascensão do Cristianismo e da Igreja, o massacre foi oficialmente substituído pela política.
O que mudou?
Hoje a arena é diferente, os gladiadores são outros, as feras também, mas tanto homens quanto animais continuam alimentados pelo sistema.
Mas os sentimentos mudaram?
Ainda escolhemos quem será massacrado, torcemos para que a fera seja alimentada, torcemos pela prisão dos revoltados, pelo desemprego daqueles que apoiaram o governo, pela falência dos opositores; boicotamos inimigos, linchamos moralmente quem pensa diferente, ofendemos quem sugere moderação; mulheres versus homens, gays versus heteros, brancos versus pretos, ricos versus pobres, povo versus instituições, sul versus nordeste, direita versus esquerda… até quando sustentaremos essa energia e esperaremos algo bom em retorno?
Já pensou em se tornar um rebelde e simplesmente não sentar na arquibancada do espetáculo?
Imagine o poder desta cena:
O governo, os gladiadores e as feras aguardam o início do espetáculo, mas a plateia está vazia…
“Onde está o povo? Será que estão em casa se curando, desejando o bem, se perdoando, cuidando de suas famílias e plantações, elevando seus sentimentos, evoluindo espiritualmente e se libertando? Meu Deus! E se coisas boas começarem a acontecer com eles? E se eles conseguirem colher mais neste ano, como vamos mantê-los reféns pela fome e pelo medo? O que será de nós? Espalhem que as feras estão mais famintas, que os gladiadores ameaçaram suas famílias, divulguem aos quatro cantos que é dever do povo fazer justiça com seus polegares… não podemos perdê-los…”
Se o povo despertar, o jogo acaba…
