O governo considerou ridícula a taxa de 136% do CDI e limitou a 120%. Mas 120% do CDI também é um juros escandaloso. Assim, ao déficit dos Correios, vão se somar juros astronômicos.
O Estado poderia cortar esse gasto. Basta transformar os Correios em empresa do Tesouro, injetar R$ 20 bilhões de outra parte do orçamento ou ajustar a meta fiscal para cobrir o gasto, como costuma fazer. Assim, seria mais honesto com quem paga impostos.
Outra saída menos dolorosa seria um empréstimo do BNDES com juros baixos. Mas pense no escândalo político de envolver o BNDES na salvação dos Correios. O governo insiste que a solução deve ser “de mercado”.
O mercado deu seu preço, mas o governo rejeitou. Mesmo com “garantias” do Estado, o custo não era como uma LFT, título do Tesouro. O motivo: empréstimo de 15 anos para uma empresa falida e com gestão duvidosa. Na prática, seria uma doação sem retorno, e ainda o Estado teria que acionar a União para honrar as garantias, até aceitando precatórios. É como comprar CDBs do Master com garantia do FGC; ainda assim o banco precisou oferecer 140% do CDI para achar investidores.
O governo precisa deixar de fingir que há solução para os Correios e iniciar sua desmontagem. Enquanto isso, quem paga impostos continuará tendo que cobrir o déficit.
Marcelo Guterman, engenheiro de produção pela Escola Politécnica da USP e mestre em Economia e Finanças pelo Insper.
